Kaoa é menino quilombola que adora jogar bola.
Ele vive no quilombo Sacopã,
lugar de muita história e dignidade que mantém viva a memória
dos pretos que lutaram pela liberdade naquela cidade.
Aos pés do morro em que Kaoa vive,
existe uma lagoa de extrema beleza.
Foi lá que ele aprendeu a respeitar a natureza.
Todos os dias, leva seu cachorro chamado Montoro para passear.
Desce a montanha sorridente e atento,
pois adora a paisagem contemplar.
Na volta, a caminhada é uma subida muito íngreme, de desanimar.
Por isso, Kaoa sempre olha invejoso para as asas dos pássaros,
tão rápidos no céu a voar.
Um dia, quando descia para dar as suas voltas,
avistou na janela de um prédio uma cena que o fez sentir muita revolta.
Ele custava a crer, como podia um ser prender um belo pássaro em uma minúscula gaiola?
E a pobre ave ainda ficava na janela vendo a paisagem e passando vontade!
Era um crime de imensa gravidade!
Durante todo o passeio ele via as garças livres às margens da lagoa.
Isso só aumentava o seu anseio.
Voltando para casa, Kaoa decidiu que iria encontrar um meio.
Fez uma prece bem sentida, invocando a força dos seus antepassados,
que um dia, também viveram enjaulados.
Nessa hora, o menino parecia mesmo que tinha se tornado um ser alado!
Escalou o edifício até a janela em que estava a gaiola,
e abriu a porta daquela pequena prisão.
O pássaro mal esperou e logo pulou na palma da sua mão.
Kaoa não entendia por que ele não queria voar.
Durante muitos dias o pássaro o acompanhou em tudo que é lugar,
mas ele só sabia andar.
Kaoa insistia, mas parecia que ele não queria se libertar.
Em um dia muito azul e ensolarado, o pássaro emitiu um alto piado,
abriu as asas e finalmente voou!
É que as suas asas, que haviam sido cortadas,
agora estavam regeneradas.
Kaoa se emocionou, mas chorou foi de felicidade.
E desejou naquele momento, que a humanidade também desse alforria
a todos os animais que um dia perderam sua liberdade.